quarta-feira, 28 de março de 2007

6. Os ganhadores

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Kwadi gostava de ficar no pequeno lago perto da estação, tanto que já começava a enraizar-se na pedra onde se sentava desde que chegara à cidade, no mesmo dia que Teresa. Além do fresco, ali aprendia muita coisa, bem mais do que na longa e demorada caminhada, que fizera da tribo até à cidade. Tal como Teresa, e as bonecas, Kwadi já sabia contar, mas bem mais. Contava em português e em umbundo até à dúzia. Um catete, dois cavali, três catatu, quatro cakwãla, cinco catãlo, seis cepandu, sete cepandu vali, oito celelãla, nove ceciya, dez cekwe, onze cekwi la mosi, doze cekwi la vali. Era o que ouvia repetidamente, da quitandeira que passava à tarde com o cesto de camarões ainda a espernearem, e de novo, mais tarde com a quitanda vazia.

Logo depois da segunda rua que estava atrás do pequeno lago, era a praia com a areia em duna, como um pequeno morro. Poucos eram os que para ali iam esticar-se ao sol ou nadar. Era mais uma praia de peixe, de pequenos negócios de mar. A meio da manhã e a meio da tarde chegavam os barcos de pesca, que tinham ido até mais ao largo do Atlântico. Os pescadores puxavam as redes e as quitandeiras aguardavam para encher os seus cestos com peixe ou camarão ou um pouco de tudo. Depois, espalhavam-se pelas redondezas até terem a quitanda fazia e os dinheiros num lenço que enfiavam entre o peito.

Déte, a quitandeira, fazia as contas sentada na borda do lago em cuja pedra Kwadi sentava. Contava os dinheiros à sua frente e por vezes falava-lhe de coisas da vida, do peixe, dos custos das coisas no armazém e do marido que trabalhava no porto mas não sabia segurar o dinheiro. Tinha dois filhos na escola e um mais pequeno que ficava com a avó enquanto Déte vendia os camarões. Vendia rápido. O mais que demorava era de casa até à praia e depois a voltar para casa. Não tinha a felicidade de outras quitandeiras que moravam mais perto do negócio. As da Cabaia é que têm sorte, pegam o peixe lá mesmo e vão vender no Compão que é perto – disse a Kwadi, uma vez. Ela morava na Bela Vista e vinha ali ao negócio, porque tinha um maximbombo linha directa. Mas tinha de lavar a quitanda para a volta, senão não a deixavam entrar. E gastava dinheiro na viagem.

Queria mudar-se para a Cabaia, para não gastar no maximbombo. Mas na escola do Compão não havia ainda lugar para os dois filhos estudantes e Déte não concebia a ideia de os deixar fora da escola. Acreditava que pelo menos um deles iria ser bom aluno e ganhar o prémio de estudar na Metrópole que o presidente dava. Na verdade não sabia bem qual o presidente que dava ou exactamente o que dava, mas estava confiante no tal prémio porque conhecia a família de um que o tinha ganho. O estudioso era o Kalô Neves, um moço de óculos que logo após a festa do seu mérito lá na sanzala, partira para a Metrópole a expensas do Estado, com mais dois brancos de segunda, também de óculos. O Lito Ortega arraçado de espanhol pelo lado da avó materna e o Dani de Sá, quarta geração de portugueses em Angola.

À época, a bolsa de estudos era atribuída exclusivamente ao mérito e não a carência económica ou de qualquer ordem. Oferecia ainda a vantagem de ser praticamente um passe para longe da guerra e das obrigações militares inerentes a qualquer mancebo, mais ainda dos nascidos em África. Kalô, Lito e Dani conheceram-se no cais, à entrada do navio e lá foram à aventura nos seus pouco mais de quinze anos e o quinto ano dos liceus concluído. Que tinham ido os três no mesmo barco, Déte tinha certeza porque se dera ao trabalho de vir lá do morro da Bela Vista até ao porto verificar se o Kalô ia ou não ia no navio. E foi mesmo! Ia todo bem empacotado, feito um calcinhas, no fato que usava na missa de domingo, e no dia em que teve os exames importantes que lhe fizeram ganhar a bolsa.

O Padre António comprara-lhe o fato com o dinheiro de Deus – dizia Déte. Além disso, o religioso acompanhara Kalô até ao porto, junto com a família, um ou outro amigo e alguns vizinhos curiosos como a quitandeira. Pouco depois dos moços subirem a escada do navio chegou em alvoroço uma família de mulatos que se despediam às pressas da Joana Ribas outra das ganhadoras, que se atrasara a marcar presença no navio. Mas ainda assim, também foi de viagem, com toda a família a acenar do cais, de braços no ar, até quase o navio passar para lá das Portas do Mar.

Kwadi ia contar à quitandeira que conhecia Teresa que tinha vindo para a escola, e no entender de Kwadi também havia de ganhar o tal prémio, quando tivesse a idade do Kalô e dos outros que Déte falava, mas esta saiu em correria a gritar:
- Aiué maximbombo, espera, espera, mamauéé.

O maximbombo esperou, Déte subiu e lá foi aiué...

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Glossário:

. Maximbombo – ónibus, autocarro.
. Quitanda (ou kitanda) – cesto ou espaço onde estão ou estarão coisas, geralmente mantimentos frescos para negócio.
. Quitandeira(o) (ou kitandeira(o)) – pessoa que usa a quitanda no exercício de um negócio frequente.
. Sanzala – bairro de habitações modestas.
. Umbundu – uma das línguas de Angola, a segunda em número de falantes, a seguir à língua oficial, o português, e de maior incidência na região centro e sul do país.
. Um calcinhas – termo usado para referir um indivíduo do sexo masculino bem vestido quando isso é raro nele, em situação que parece inadaptado a essa roupa melhor ou mais fina.
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terça-feira, 27 de março de 2007

5. O cinema

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Teresa tinha gostado da viagem de comboio. Não tinha sido a sua primeira, mas fora a maior, muito maior de todas as suas viagens. Agora no Lobito, já lhe falaram dos barcos grandes, grandes, mas ainda não os vira. Ouvia-os apenas, no som rouco e forte, a anunciarem chegadas e partidas. Vira os aviões a voarem sobre a cidade. Coisas pequenas lá muito em cima. Na fazenda não se viam. Nem os flamingos que pareciam maiores que os aviões lá no céu. E mais bonitos, cor de rosa. Não são “bem cor de rosa”, dissera-lhe o Henrique, seu colega de hospedagem na casa da “Senhora Directora”. O Henrique tinha sete anos, estava na segunda classe, não era bom estudante, nos dizeres da directora. Mas era um menino bom e esforçado. Não dava é mais, coitadinho – dizia também a directora.

A casa da directora era no Lobito Velho, um bairro da cidade mais perto dos morros, do outro lado da baía, contrário ao do porto e da estação de comboios. Um casarão antigo, com um grande quintal fechado por muros altos, a esconder a horta, o pomar, o galinheiro e os anexos onde moravam a lavadeira, a cozinheira, o horteleiro, suas famílias e também o enteado da directora, que tinha dezanove anos e era a cruz que ela tinha de carregar, como costumava lamentar-se. Era o Jorginho. Tinha, no entender da directora, dois hábitos nefastos: a indisciplina e a soberba. Além disso, gostava de dizer aos hóspedes infantis que a madrasta directora era uma bruxa má e os iria meter dentro do fogão, para os cozinhar e encher a barriga dos jacarés do rio Catumbela.

De início, Teresa preocupou-se com esta história, mas cedo se apercebeu que a directora não era assídua da cozinha. Além disso, a cozinheira Domingas dissera-lhe que ela era bruxa má sim senhora, mas não sabia cozinhar. Informara também, que enquanto dona da cozinha, ela Domingas, não deixaria que lhe estragassem o fogão com meninos lá dentro. Já eram crianças grandes, não cabiam num fogão daqueles. Teresa sossegara! O Henrique corroborara. E depois, já lá estava há mais dum ano e continuava longe da barriga dos jacarés, mesmo não sendo um bom estudante.

Também há mais de um ano, estavam na casa da directora o Renato e o Norberto. Havia ainda a Helena mais crescida e muito boazinha para Teresa. Estava na quarta classe, tinha nove anos e no ano seguinte iria continuar os estudos na Metrópole, num colégio interno de Madres religiosas. Teresa dividia o quarto com ela. Os meninos tinham outro quarto. Tinham vindo todos de fazendas no interior, mas não se conheciam antes de ali chegarem. De manhã cedo iam todos num carro grande para o colégio, não muito longe. Pouco depois do meio dia, regressavam para almoçar e voltavam ao colégio antes das duas da tarde. Às cinco acabava a escola, mas ainda tinham de fazer os “deveres” e estudar sob a supervisão da directora ou da Menina Judite, depois do lanche até à hora do jantar.

Isso era feito já em casa, na sala de estudos que tal como a sala da directora no colégio, estava forrada com estantes cheias de livros, quase todos sem figuras nem desenhos. A Menina Judite era uma professora do colégio, solteira, que morava na casa da directora desde que chegara da Metrópole há 3 anos. Teresa achava que ela não era bruxa como a directora. Os meninos, a Helena e a cozinheira Domingas concordavam. Jorginho também concordava, mas neste assunto, sorria sempre de um modo trocista. O marido da directora, senhor Antunes, também morava lá em casa. Era um avô bonzinho que lhes trazia rebuçados às escondidas da bruxa má e os levava ao cinema, às vezes. Teresa já tinha ido uma vez, num domingo à tarde. Esta era sua terceira semana no Lobito. Aos sábados de manhã havia escola. De tarde tinham deveres de escola e de casa. Domingo de manhã iam todos à missa na Caponte e de tarde brincavam ou passeavam com o avô Antunes, que era mais novo que o pai da Teresa.

O cinema – filme, corrigiu o Renato – que Teresa foi ver era a preto e branco com um homenzinho de bigode pequeno que andava com os pés de lado e tinha uma bengala que rodava todo o tempo. Havia um menino que era pobre e um cãozinho. Filme do Cháárlôu repetira-lhe Helena, que sabia das coisas. Seja! Teresa gostou desse “cinema” – persistiu! – apesar de ter ficado triste quando o menino também ficou. Chorou muito, saiu do cinema com os olhos inchados e finou a mágoa a ensopar um pacotinho de pipocas caramelizadas. Outras vezes ficara triste por estar longe da fazenda, do pai e do gato Bolinha. Dormia com as duas bonecas Elisa e Luzia, que pareciam felizes por estarem na cidade. Elisa já sabia contar até 6, devagar, e Luzia mais esperta contava até 9 sem se enganar. Luzia era boa estudante quando Teresa brincava de professora. Elisa era como o Henrique, boazinha e esforçada. Por vezes, em pensamento, o menino grande da estação também vinha brincar.

Então, o brilho nos olhos de Teresa ganhava dos meninos de Lucanda na chegada do comboio.
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4. Uma festa

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O interior da carruagem restaurante reluzia em metal prateado. José ficou boquiaberto. Nada se assemelhava à linha das Beiras, lá na Metrópole, nem ao comboio para Lisboa. Este aqui, tinha menos madeiras e mais aços. E as madeiras eram autênticos espelhos. O conforto era maior também. Dos lados da carruagem, em cima, em vez de estrados de madeira corrida de lés a lés, havia em descontínuo uns aros metálicos brilhantes que formavam-se em cestos para quem lá quisesse pôr as bolsas ou alguma mala pequena, das inseparáveis. Mas ninguém os usava no restaurante. Estavam todos à confiança. O demais das laterais abria-se em janelas e na frente da carruagem espelhos ladeavam a porta de acesso ao restaurante.

Ninguém se sentava sozinho, mesmo que viajando sem companhia. Alguém chegava, apresentava-se, era convidado a sentar no lugar vago à mesa e a conversa fluía. Os poucos minutos que José tinha das Áfricas, já lhe haviam granjeado a convicção que “estas gentes”, fossem de que cor fossem, eram muito dadas às falas e tinham assunto sobre praticamente tudo. Pareciam felizes com isso. No entanto, falavam num tom baixo sem grande agitação, pouco comparável ao que presenciara no comboio das Beiras a Lisboa onde embarcou no Vera Cruz, o navio que o trouxera a ele e mais uns mil. Alguns duzentos, militares. Destes, uns poucos vinham agora no comboio, mas todos à civil. Rapaziada animada. Alguns também lá das Beiras. No barco, tinha até encontrado um rapazola que ainda era seu primo afastado. O comboio parou. Perante o seu olhar de caso, Sebastião à sua frente, pausou a tagarelice com o velho Gonçalves e mais outros dois companheiros de mesa e informou:
- Costuma parar aqui à entrada da ponte do rio Cavaco. Uns segundos, pouco mais. É a chegada a Benguela.
- Rio?
- Ah, sim! Está é sem água. Mas na época das cheias parece um pequeno mar.

José, que não havia visto mar até se emborcar no navio, enfiou a cabeça fora da janela e viu pouco adiante mais uma ponte de ferro. Em baixo uma estrada larga de areia – era o rio. As margens eram verdejantes, com pomares, hortas, verdes a perder de vista.
- E bananeiras sem fim – disse Sebastião – mamoeiros também.
- Mamoeiros?
- Mamoeiros, papaieiras e muito mais.
- Que dizeis?
- Fruta! Da familia dos melões ou melancias, mas diferente. – Explicou Sebastião.
Alguns segundos após, o comboio retomou marcha e de cima da ponte, José vislumbrou pequenos lagos de água no meio da estrada de areia que era o rio. Num ou outro desses pequenos lagos, algumas mulheres nativas pareciam lavar roupa. Tinham os filhos pequenos amarrados às suas costas com um pano. De seguida, o comboio parou na estação de Benguela. Viu as acácias rubras cobrindo as árvores entrecortadas por uma ou outra palmeira. Muitas cores em África – pensou. Um dos funcionários do restaurante serviu-lhe o chá.

Ficou mais alentado. A conversa dos outros pareceu-lhe menos complicada.
- Quer então dizer que o Xebastião já estaba no Lobito há 2 dias?
- Três! Estive a tratar das encomendas – esclareceu Sebastião – nos armazéns da cidade. Para depois seguirem pelo caminho de ferro. Algumas coisas já vão neste comboio.
- De que encomendas se trata?
- Mantimentos, bebidas, tecidos, ferragens, quase tudo o que não temos na fazenda.
- Não têm mantimentos na fazenda? – Perguntou José, sem conseguir esconder alguma apreensão.
- Ora Sô Zé, concerteza que há mantimentos! O que eu queria dizer é das outras coisas que só se encontram na cidade. Bacalhau da Terra Nova ou da Noruega, peixe seco e de conserva, sal gema, açucar mascavado, whisky, vinho português ou da África do Sul.
- O Sbell não está mau. – Interveio um dos convivas à mesa.
- O amigo não me diga uma coisa dessas. Whisky não é uma coisa natural de ser feita em África! É concerteza uma zurrapa das boas. Quero lá provar uma coisa dessas. Nem pensar! Vejam só, whisky do Lobito. Como se já não lhes bastasse o vinho Caxi, outra boa zurrapa dos lobitangas, agora inventaram o whisky Sbell – disse o velho Gonçalves, rindo.
- É o progresso, é o progresso! Mas ainda assim digo-lhe que tem de experimentar o Sbell. Não é mau de todo. – Insistiu o conviva, rindo também com a casmurrice do velho.
- E sem esquecer que é o único whisky feito em todo o Portugal e Colónias é o Sbell. Um “scotch” puramente africano. Angolano! – Acrescentou Sebastião.
- Meus meninos, bebidas do Lobito, só a água do Jomba para fazer a digestão de uma boa moamba ou da feijoada da Maria do Silva na Cáala. E tenho dito! – Continuava sorrindo o Gonçalves, animado com a controvérsia.

A conversa continuou arrebatada. Quase duas horas de marcha depois, ao chegar a Lucanda, foram interrompidos pela barulheira vinda do exterior. Um bando de crianças pequenas corria atrás do comboio com mais três cães a juntarem-se à algazarra.
- Estes devem estar contratados pelo CFB em consórcio com o soba local para recepcionarem os viajantes da linha, à chegada a Lucanda. – Disse Gonçalves, rindo da criançada.
Quase todos da carruagem restaurante riram do comentário gonçalvino.
- O amigo tem razão! – Disse a rir, um de outra mesa. – Olhe, aquele ali – e apontou um dos garotos que corria lá fora, atrás do comboio – já o vejo nisto há pelo menos 2 anos.
- É um profissional! Comentou outro dos viajantes.
Os do comboio riam. Os pequenos fora do comboio, também riam. Os olhos brilhavam. À chegada diária do comboio, um Deus olhava para baixo e via a Lucanda no mapa divino. E também no mapa terreno, no Km 86 do CFB.

E era uma festa...

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Glossário:

. CFB – Caminho de Ferro de Benguela.
. Moamba – moamba de galinha é uma comida tradicional angolana, intensa em óleo de palma (denden) e gindungo.
. Zurrapa – coisa ruim, mal feita, quase sempre aplicado a bebida ou comida. Quanto melhor a zurrapa pior feita foi a coisa.
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segunda-feira, 26 de março de 2007

3. O chegante

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O navio acabara de atracar. No cais, um sem número de gentes aguardava os chegantes, as notícias frescas e o suceder-se da última moda na Metrópole. Sebastião, um mulato estiloso e bem parecido mascava chuinga enquanto mirava, por detrás da discrição dos óculos Ray-Ban, umas miúdas dezassetinhas barulhentas que, ao que parece, esperavam uma tia. Meia dúzia de anos mais velho que elas, Sebastião esperava o padrasto, ou coisa que o valha, para encarreirar o homem “nas Áfricas”.

Quatro anos antes o pai falecera-lhe. Muito antes disso, havia casado com Dona Emília, fazendo desta a madrasta vitalícia de Sebastião. Por isso, agora esperava-lhe o novo marido para o acompanhar até casa, cerca de 500Kms para Leste. Sabia pouco dele – que era branco da Metrópole, das Beiras, que esta era a sua primeira viagem a África e a primeira a qualquer lugar, que se chamava José Vicentino Oliveira, que tinha-se safado à guerra por causa do pé chato, que entendia de gado e que soubera escrever ou mandar escrever uns poemas que haviam deixado derretido, o coração da sua madrasta.

Entretanto a escada principal do navio foi amarrada ao cais e logo depois, os viajantes começavam a descê-la seguidos do séquito de carregadores que anteriormente haviam subido para esse efeito. Ocorreu então a Sebastião que poderia ser complicado encontrar o homem no meio de tanta gente. Com esta preocupação dirigiu-se a um madié, branco de segunda, aparentemente lobitanga e mais ou menos da sua idade. Era lobitanga!

- O quê?! O gajo é a primeira vez que viaja?! E vindo lá da terrinha?! (Riu-se) Se conseguir sair do navio pelas próprias pernas já vai com sorte. Essa malta começa a vomitar cinco minutos depois dos navios largarem lá do Puto e só param uma semana depois de atracarem aqui. Fica de olho nos que saírem depois de todos os outros, com as pernas bambas, muito branquinhos e com ar de estúpidos, como boi a olhar para um palácio, que achas o gajo rapidamente. Geralmente desses, só vem uma dúzia em cada navio. Os outros ou são os de cá, ou vêm fazer a tropa, ou têm família e conhecidos à espera.

E assim foi! O lobitanga parecia vidente. Mais de uma hora depois lá chegava o Zé Vicentino muito pálido com duas malas a caírem-lhe pelos braços abaixo, poupando o angolar dos carregadores. Sebastião engoliu o riso gozador – yah, um “branco de primeira”, pensou. Fez um balão com a chuinga e estalou-o no ar. Depois continuou a mascar ostensivamente e com alguns ruídos estilosos. Lá cumprimentou o padrasto, ou o que seja, sem em momento algum demonstrar a menor intenção de o aliviar do peso das malas.

- Bochemecê é então o Xebastião?!
- Yah! – Respondeu Sebastião mascando a chuinga e dando um ligeiro gingar de ombros.- E adonde é o comboio?
- Uns 3 miutos de táxi.
- Bamos a pé. Não bale a pena gastar dinheiros no carro.
- Com este calor Sô Zé? Olhe que não é nada boa ideia depois da viagem que acabou de fazer. – Retorquiu Sebastião que não tinha intenção de se dar ao trabalho e menos ainda de raspar a sola dos sapatos novos.
José anuiu a contra gosto e lá foram de táxi.

Uns quinze minutos depois do comboio iniciar marcha, Sebastião resolveu dar mostras da educação que o pai lhe ensinara e tentou ser cortês para José Vicentino.
- Olhe, ali são as plantações de açucar do Cassequel. A refinaria é mais além, está a ver. É daqui que sai o açucar para a Metrópole. O Cassequel faz de Angola um dos maiores produtores mundiais. Já não sei se é o segundo, ou terceiro. Só o Brasil e Cuba são maiores ou estão a par. E agora está a ver o cemitério da Catumbela. Os gajos no Lobito não têm cemitério. Nascem muitos e quase não morrem. Os que bazam – e fez o gesto do além, algures no céu ou no inferno – vêm para este cemitério, uns 7Kms. Pronto! Chegámos a Catumbela. É uma vila antiga... com mulheres bonitas – disse sorrindo com malícia.

O comboio parou escassos minutos. Saíram poucos, entraram poucos. Continuou a viagem. Logo de seguida o comboio vibrou no ferro da ponte.
- Balha-me Deus, que bicheza é aquela?
- O quê? Ah! Os jacarés?! Aqui no rio Catumbela há sempre um ou outro. Já estão habituados. Não se assustam com o barulho do comboio na ponte.
- Olha quem é ele – interrompeu um homem de cabelos brancos e idade avançada que ia a caminho da carruagem restaurante.
- Oh Sô Gonçalves, o que faz o senhor aqui? – Respondeu Sebastião parando de mascar a chuinga enquanto se levantava e o cumprimentava sorridente.
- Vim trazer a Teresa para a escola. E tu meu malandro?
- Vim buscar o Sô Zé, o novo marido da minha mãe Emília – chamava assim à madrasta. Chegou hoje da Metrópole.
Feitas as apresentações e os cumprimentos devidos, dirigiram-se todos ao restaurante do comboio, com José a dizer que um chá ou um caldinho caía-lhe bem.

Afinal não mentira a Teresa quanto a não viajar sozinho, pensou o velho Gonçalves esboçando um sorriso.

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Glossário:

. Angolar – referente à moeda local, o escudo de Angola, à época.

. Chuinga – chiclete, pastilha elástica.
. Dezassetinhas – as que têm ou aparentam ter dezassete anos.
. Lobitanga – o(a) nascido(a) na cidade do Lobito.
. Madié – forma de tratamento entre os jovens de sexo masculino; cara, bacano.
. Puto – referente ao Portugal europeu.
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quinta-feira, 22 de março de 2007

2. A despedida

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A sala era grande do ponto de vista de Teresa. Ainda assim pareceu-lhe boa ideia não se adiantar demais no espaço, não pular, saltar, cantarolar, mexer no que fosse, muito menos enfiar o dedo no nariz, ou sequer fazer alguma pergunta. Não sentia medo nenhum, mas a ocasião parecia-lhe solene. Lembrava o dia que foi para a Missão do Canhe no Huambo, desfilar na entrega das alianças no casamento da Dona Emília. Havia lá um noivo, mas não era o noivo. Tinham-lhe dito que deveria dar as alianças aos noivos. Depois disseram que o noivo não era o que estava lá e Teresa não lhe quis dar a aliança. Foi uma maka na igreja. Depois todos riram. Por fim o padre abençoou Teresa e disse que Deus olharia por ela. Abençoou também a Dona Emília e o noivo que não era noivo. Era primo. Mais tarde tentaram explicar-lhe que a Dona Emília estava a casar por procuração. O noivo de verdade estava na Metrópole e só ia chegar daí a dois meses. E como ia morar logo com a Dona Emília, o casamento foi feito antes e por procuração.

De toda a história, Teresa entendeu que em caso de dúvida sobre as coisas, o melhor a fazer é ficar o mais quieta e calada possível. Além disso memorizou: “por procuração o noivo vem depois”. Tempos mais tarde, lembrando-se disso e já que o pai vivia a falar que ela havia de casar com um branco da Metrópole, resolveu aliviar a ansiedade paterna.
- Pai, queres que eu case amanhã por procuração?
- Amanhã? Por procuração? Que perguntas são essas Teresinha?
- Caso amanhã por procuração e depois assim, já me caso com o branco da Metrópole, quando ele vier.
- Qual branco? – Perguntou o pai.
Teresa ficou com os olhinhos pequenos, pequeninos, a olhar o pai. Estava a pensar, mas a pergunta era complicada. Ah! Era preciso saber qual branco? E como ela poderia saber, se o que o pai queria era um branco da Metrópole e a avaliar pelo caso da D. Emília ela primeiro casou e depois é que o noivo chegaria. Ora, esses brancos estavam na Metrópole e Teresa nem sabia muito bem onde isso seria, mas concerteza era longe. Entretanto o gato Bolinha passou, Teresa foi atrás dele e a conversa do casamento terminou para descanso de todos menos do gato que não gostava de ser agarrado.

Agora, na sala da Directora – “Senhora Directora”, avisara-lhe o pai – Teresa esperava olhando em redor, muito devagarinho. Uma secretária enorme de madeira escura e brilhante atravancava o acesso à janela por onde Teresa queria espreitar, para saber o que estava lá fora. Em cima havia uma bola com muitas cores, mas o mais em azul, que o pai lhe disse ser o mundo. Além do mundo, a secretária tinha muitos papéis todos direitinhos, 3 lápis, uma borracha, um molhinho de envelopes, 4 livros grandes e mais outro pequenino e gordinho e uma caneta espetada num frasquinho de vidro com tinta azul escura. As paredes quase não se viam. Estavam forradas com estantes cheias de livros, alguns muito amarelados. Teresa nunca tinha visto tantos livros. Ela tinha dois da Anita. Gostava muito da Anita dos livros. Os livros da Anita tinham desenhos com a Anita, a amiga Bruna, o cachorrinho e outras coisas, além de letras, que para Teresa eram coisas que preenchiam os espaços dos livros onde não cabiam mais desenhos. O pai também tinha livros, quase todos amarelos com letras pequeninas e sem desenhos e mais outros que ele chamava “livros de contas” onde escrevia coisas de dinheiro que a Teresa um dia, quando fosse grande, tinha de saber para mandar na fazenda – era o que o pai lhe dizia.

Entre a secretária e a janela estava uma cadeira enorme, vazia e do outro lado, outra cadeira também grande onde o pai estava sentado a olhar indefinidamente para a bola do mundo, que de vez em quando fazia rodar devagar. A porta abriu-se e chegou uma senhora magrinha e alta com o cabelo muito redondo e levantado por igual, o que lhe fazia a cabeça muito grande. Era a senhora Directora. Muitas senhoras usavam aquele penteado e Teresa sabia que aquele cabelo alto precisava laca para não cair. Laca parecia-lhe uma coisa fina, mas a Dona Emília no rescaldo da maka no casamento por procuração havia-lhe dito que a laca não era para a Teresa, nem quando ela fosse grande. Alguma coisa em sequela do cabelo de Teresa ser demasiado encaracoladinho, “coisa da raça” – ela disse.

- Esta é a Teresa? – Perguntou a Directora ao pai, depois de o cumprimentar e saber como tinha sido a viagem.
- Sim, é a minha Teresinha. É muito viva, esperta que só ela.
E virando-se para Teresa:
- Dá as boas tardes à senhora Directora.
- Boa tarde senhora Directora. – Disse Teresa com ar solene.
Os crescidos riram. Teresa ficou a olhar sem entender a piada. A Directora falou-lhe:
- Vais ter de estudar muito e ser bem comportada para não decepcionares o teu pai e mereceres a sorte que tens. De certeza vais gostar de estar na escola. Há muitos meninos e meninas, nos intervalos podem brincar, mas nas aulas têm de estar atentos, senão não aprendem. Os burros e os maus são castigados. Os estudiosos vão chegar longe na vida e aqui tratamos que os nossos alunos sejam estudiosos e venham a ser homens e mulheres de futuro. Daqui a pouco o teu pai vai embora e tu não vais chorar. Já és uma menina grande, não um bebé. Nas férias voltas à fazenda.

Isso já o pai lhe tinha dito – que nas férias voltaria à fazenda, que Teresa ficaria na casa da Directora, onde havia mais 3 ou 4 crianças de outras fazendas. O que eram férias é que Teresa não tinha ainda compreendido muito bem, mas pelo ar dos adultos que falavam disso, devia ser uma coisa boa. De qualquer dos modos, como as tais férias seriam na fazenda, deveriam mesmo ser uma coisa boa. O que a intrigava, era o que seriam “os estudiosos”, que pelos vistos ela tinha de ser. A conversa do pai com a Directora prolongou-se sem que Teresa entendesse pormenores, mas como tinha trazido as duas bonecas na mala, estava tranquila. Finalmente o pai chamou-a, sentou-a no colo, abraçou-a e ficou triste.
- Tem sido a minha alegria, minha razão de viver. – Disse, olhando para a Directora, como a desculpar-se.
- Pai, podes levar a minha boneca Joaninha contigo.
- Não queres a boneca, Teresinha?
- É para não voltares sozinho.
- Ah! Não é preciso. Agora na ida, vão outros senhores meus conhecidos que já cá estavam e por isso não vieram no nosso comboio. Fica tu com a boneca.

Saíram os três da sala e já na porta de saída, com o táxi à espera, sem Teresa ouvir porque se afastara a remexer num bolso do casaco, o pai disse à Directora, num tom de voz baixo:
- Preocupa-me como a minha menina vai reagir a esta distância e a tanta coisa nova na vida dela. Por favor, não deixe de me informar de qualquer coisa que aconteça ou que ela precise.
- Esteja descansado senhor Gonçalves, ela fica bem. As crianças nestas coisas são mais fortes que os adultos. E já lá diz o ditado, “muito mimo, estraga o menino”.

Mais um abraço a Teresa, cumprimentos à Directora e ao entrar no táxi é surpreendido por Teresa, que o ultrapassou e está à sua frente, quase enfiada pela porta dentro.
- Podes dar este rebuçado ao menino da estação?
- Que menino?
- O grande, sentado na pedra, que tinha farinha branca na cara.
Teresa referia-se a Kwadi, mas não lhe sabia o nome.
- Se o vir, compro-lhe outro rebuçado, está bem?
- Tá.

E o táxi seguiu pela avenida até ser apenas um pontinho...

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Glossário:

. Maka – confusão, discussão, desentendimento.
. Rebuçado – balinha.
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quarta-feira, 21 de março de 2007

1. O mesmo olhar

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O calor via-se em ondas sobre o chão, a caminhada já durava, durava... num olhar pareceu vislumbrar um recanto mais fresco. Tudo era novo, confuso, talvez assustador, mas sem leões a espreitar. Que terra era essa onde não se vêem leões e os homens não têm lanças? Outros bichos, estranhos zurravam num deslizar constante, mas ninguém os parecia temer. Um zurro maior estremeceu o solo. Deveria ser um bicho maior que elefante e ninguém fugiu. Havia árvores com copas verdes e um lago de água límpida, no meio uma pedra. Kwadi sentou. Coçou uma perna e olhou para o outro lado. Seria a casa do soba? Um soba de uma tribo importante e rica?

Em correria passaram alguns da tribo do soba da casa grande. Leões não se viam e os que corriam, corriam para o lado do zurro. Muitos outros vinham em sentido contrário, mas sem pressas. Um dos que iam, falou para os que vinham:
- O comboio já foi?
Outro respondeu:
-Ainda!
O bicho grande chamava comboio. Kwadi pensou – esse bicho não conheço. Estava melhor agora, sentado, e sabia mais um animal, comboio. Quando voltasse contaria aos da sua tribo. Eram poucos. Kwadi lembrava da infância quando eram mais, mas depois a seca fez muitos ir embora, atrás da caça. Ficaram os mais velhos e as crianças. Depois, outros mais se foram para casar em outras tribos.

Kwadi quis conhecer o mundo que pensava terminar pouco além do outro lado do rio, mas temeu ir por esse caminho. E se o mundo terminasse logo depois? Melhor seguir no sentido contrário. Encaminhou-se para norte. No dia seguinte viu as zebras e depois andou, andou, andou pela savana e por caminhos diferentes dos que conhecia. E agora sabia tantas coisas. O seu pensamento foi recortado por outros passantes.

- Veio do Chinguar?
- Vim de Dilolo. Ando há um mês nisto. Com paragem em quase todas as estações. Sou caixeiro-viajante. Fui negociar conservas em lata, da fábrica da Canata. Os gajos lá no mato, nem sabem o que é um peixe e a fábrica agora tem uma boa variedade de conservas. Até têm carapaus com tomate, enlatados como se fossem sardinha em óleo.
- Ah! Então vai vender bem.
- Sobretudo as latas com gindungo. Encomendas não me faltam.
- Pai, aqui é a escola? – perguntou uma criança que vinha mais atrás. Os crescidos olharam para ela e riram. Kwadi olhou também.
- É a primeira vez que a trago à cidade – esclareceu o pai. Vem estudar. Vai ficar aos cuidados da directora do colégio. Lá na fazenda não tenho como.

Kwadi ficou atónito. Os crescidos também. Só Teresa, a menina, parecia alheia ao facto. Tinha a pele escura como Kwadi. Mas o pai não. E era tão velho, pensou Kwadi. Mais que avô. Este era um lugar estranho, tão diferente da tribo de Kwadi. Entretanto, o pai informou.

- Adoptei-a, em 61. Fizeram-me uma razia na fazenda. Na minha família e nos outros todos que lá estavam. Até os cães, cabras, galinhas (e inspirou como se lhe faltasse o ar há horas). Safei-me porque tinha ido abastecer no armazém da Cáala e só voltei no dia seguinte. A única coisa viva que me esperava era a miúda que a mãe escondeu antes de lhe limparem o sebo. Tinha um mês ou dois. Mataram-lhe também o pai e os irmãos. A mim não me deixaram nem a mulher, nem filhos, noras ou genros, nem netos e nem o bisneto que era da idade desta. Desde então é a minha única família. É minha herdeira e tem de ter estudos. Já fez seis anos. Ainda a hei-de ver doutora, casada com um branco da Metrópole, funcionário do Estado e de boas famílias. Brancos de segunda como eu ou os senhores, nunca vão mandar nada nesta terra. Tem de casar com um branco da Metrópole (e riu). Mas ela é que tem de saber governar a fazenda, mandar no dinheiro.
- É uma grande empreitada. - Disse o que falava antes com o caixeiro.
- Olhe, sucesso! Chegou o meu carro. Senhores, tenham um bom dia. – Disse o caixeiro afastando-se em outra direcção. E foi num daqueles bichos que zurravam em deslizar constante.

Carro! O bicho que desliza é carro, anotava Kwadi de si para si.
- Teresa, é por aqui. – Disse o pai para Teresa que se aproximava curiosa de Kwadi. Os olhares cruzaram-se. Kwadi reconheceu-lhe o seu próprio olhar. O da curiosidade, receio do desconhecido, e o brilho da novidade, da descoberta. Tal como ela, um dia retornaria à sua tribo e poderia contar coisas novas. Mas a que tribo, Teresa poderia voltar? – perguntou-se Kwadi, enquanto a via afastar.

Teresa seguiu, junto do pai, saltitando em pulinhos...


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Glossário:

. Branco de segunda – referente aos brancos nascidos nas colónias portuguesas, à época em que ainda eram colónias, e a quem foi legalmente vedado o acesso a determinados cargos públicos ou administrativos, tal como a negros e mestiços. Expressão também usada para referir os brancos não nascidos nas colónias, mas com bastantes anos de África.
. Comboio – trem.
. Gindungo (ou jindungo) – pimenta, piri-piri.
. Metrópole – referente ao Portugal europeu, por oposição aos territórios não europeus (colónias) sob a administração portuguesa que perdurou até 1975, no caso de Angola.
. Soba – o indivíduo que rege a tribo, geralmente de idade avançada à qual se associa sabedoria.

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Notas:

1. Kwadi é uma língua, já extinta, do sul de Namibe (Moçamedes), sul de Angola. Em 1971 foram registados apenas três falantes regulares. Ver Gordon, Raymond G., Jr. (ed.), 2005. Ethnologue: Languages of the World, Fifteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Versão online: http://www.ethnologue.com/. Mais sobre Angola: http://pt.wikipedia.org/wiki/Angola.

2. Em 1961 Angola assistiu ao início da guerra que duraria até finais da década de 1990. Ver Cabrita, F., 1998. “O 1º. dia do fim do império”. In Revista Expresso. Jornal Expresso, edição 1324, de 14 de Março de 1998. Versão online [requer registo (grátis) e pagamento para ter acesso ao artigo]: http://primeirasedicoes.expresso.clix.pt/ed1324/r301.asp

3. O CFB - Caminho de Ferro de Benguela, atravessa Angola. Vai da cidade costeira atlântica do Lobito, na Província de Benguela até Dilolo na fronteira com a Zâmbia, a 1350Kms de distância. Nos últimos 30 anos só tem funcionado em dois trechos: nos 30Kms entre Lobito e Benguela; e nos cerca de 80Kms à volta do Huambo (Nova Lisboa), entre a Cáala e a estação de Katchiungo, próxima (8Kms) do Chinguar. Actualmente, a linha férrea e demais infraestruturas estão em fase de recuperação. O “Terminal CFB” alude à estação principal na cidade do Lobito.